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segunda-feira, 19 de março de 2012

LINGUAGEM ORAL E ESCRITA

LINGUAGEM ORAL E ESCRITA


A criança é feita de cem. A criança tem cem mãos, cem pensamentos, cem modos de pensar, de jogar e de falar. Cem, sempre cem modos de escutar as maravilhas de amar. Cem alegrias para cantar e compreender. Cem mundos para descobrir. Cem mundos para inventar. Cem mundos para sonhar. A criança tem cem linguagens (e depois, cem, cem, cem), mas roubaram-lhe noventa e nove. A escola e a cultura separam-lhe a cabeça do corpo. Dizem-lhe: de pensar sem as mãos, de fazer sem a cabeça, de escutar e de não falar, de compreender sem alegrias, de amar e maravilhar-se só na Páscoa e no Natal. Dizem-lhe: de descobrir o mundo que já existe e de cem, roubaram-lhe noventa e nove. Dizem-lhe: que o jogo e o trabalho, a realidade e a fantasia, a ciência e a imaginação, o céu e a terra, a razão e o sonho, são coisas que não estão juntas. Dizem-lhe: que as cem não existem. A criança diz: ao contrário, as cem existem.
Loris Malaguzzi


LINGUAGEM ORAL


As propostas curriculares da Educação Infantil devem garantir que as crianças tenham experiências variadas com as diversas linguagens, reconhecendo que o mundo no qual estão inseridas, por força da própria cultura, é amplamente marcado por imagens, sons, falas e escritas. Nesse processo, é preciso valorizar o lúdico, as brincadeiras e as culturas. (...) É importante lembrar que dentre os bens culturais que as crianças têm o direito a ter acesso está a linguagem verbal, que inclui a linguagem oral e escrita, instrumentos básicos de expressão de ideias, sentimentos e imaginação. A aquisição da linguagem oral depende das possibilidades das crianças observarem e participarem cotidianamente de situações comunicativas diversas onde podem comunicar-se, conversar, ouvir histórias, narrar, contar um fato, brincar com palavras, refletir e expressar seus próprios pontos de vista, diferenciar conceitos, ver interconexões e descobrir novos caminhos de entender o mundo. É um processo que precisa ser planejado e continuamente trabalhado (DCNEI, p.15)


As crianças desde que nascem são inseridas em um mundo onde a principal forma de comunicação é a linguagem oral. Um mundo pensado e organizado comunicativamente por falantes.  Assim, pela linguagem falada, o mundo é apresentado às crianças. A aprendizagem da fala se dá de forma privilegiada por meio de interações que a criança estabelece desde que nasce e acompanha toda a vida de um ser humano. Contudo, nos primeiros anos de vida as crianças pequenas apreendem e criam formas comunicativas a partir das interações que estabelecem com outros sujeitos. Fazem isto até que consigam de alguma forma apreender o código oral e/ou estabelecer outras vias de comunicação com autoria e automonia aprendendo a comunicar suas próprias lógicas, suas formas de ver e pensar o mundo a sua volta.
 Considerando a questão acima apresentada revela-se de suma importância que faça parte da função das instituições de Educação Infantil da Rede Municipal, que atendem às crianças em idade creche [zero a três anos] e pré-escola (4 e 5 anos), a elaboração de estratégias pedagógicas que trabalhem com as  múltiplas formas de comunicação infantil, a fim de tentar  garantir que essas crianças sejam apresentadas à linguagem oral e outras formas comunicativas paralelas usadas e cotidianamente inventadas por adultos e crianças da forma mais rica possível. Trabalhamos com o entendimento apresentado por Bakthin que defende a idéia de que a linguagem é viva e se faz em uma arena onde os sujeitos interagem entre si, compartilham idéias e culturas.  A ampliação da capacidade de utilizar a fala de forma mais competente se dá na medida que vivenciam experiências diversificadas.
A relevância da consideração feita acima serve como indicativo para que os professores de instituições infantis fiquem atentos ao fato de que quando as crianças interagem com o mundo, elas não ficam limitadas a forma de comunicação oral. Muito pelo contrário, elas se utilizam de múltiplas linguagens para interagir com o mundo e não são poucas às vezes que elas promovem interseção entre linguagens diferentes para se fazerem comunicar. Além da própria fala/escuta em si, as crianças interagem com os sons: tentam reproduzir alguns e ousam criar/experimentar outros, mesclam som, gesto e imagem, relacionam e explicitam vivências de sentimentos, de odores e de sabores.
Todas estas ações e tantas outras que aqui não nomeamos fazem partem das formas de interação, de comunicação entre a criança e o mundo. Como nos ensina Loris Malaguzzi, as crianças têm muitos modos de compreender, de ser, de estar, de interagir e de se fazerem comunicar com o mundo. Estas formas muitas vezes são diferentes das que comumente são utilizadas pelos adultos.


LINGUAGEM ESCRITA


Ainda considerando a temática linguagem, ressaltamos a importância de considerarmos a linguagem escrita no cotidiano da Educação Infantil. Lembramos que essa questão deva ser considerada não como prática preparatória para o ensino fundamental, mas sim, como um bem cultural com o qual as crianças devem ter experiências variadas.
Nesta perspectiva, nos reportamos às Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil quando considera
Também a linguagem escrita é objeto de interesse pelas crianças. Vivendo em um mundo onde a língua escrita está cada vez mais presente, as começam a se interessar pela escrita muito antes que os professores a apresentem formalmente. Contudo, há que se apontar que essa temática não está sendo muitas vezes adequadamente compreendida e trabalhada na Educação Infantil. O que se pode dizer é que o trabalho com a língua escrita com crianças pequenas não pode decididamente ser uma prática mecânica desprovida de sentido e centrada na decodificação do escrito. Sua apropriação pela criança se faz no reconhecimento, compreensão e fruição da linguagem que se usa para escrever, mediada pela professor, fazendo-se presente e, atividades prazerosas de contato com diferentes gêneros escritos como a leitura diária de livros pelo professor, a possibilidade da cinca desde cedo manusear livros e revistas e produzir narrativas e “textos”, mesmo sem saber ler e escrever (p. 15 e 16)

Para pensar junto com educadores da rede de forma práticas suas intervenções pedagógicas, fazemos referência ao documento publicado pelo Ministério da Cultura (MEC) intitulado Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (2009), que é um documento oficial que caracteriza-se como um instrumento de autoavaliação da qualidade das  instituições  de educação  infantil, por meio de  um processo  participativo e aberto a toda a comunidade (p. 9).
O documento orienta com bastante precisão metodológica como todo o trabalho deverá se desenvolver para a avaliação dos indicadores de qualidade. Neste sentido o texto é bastante interessante, pois pensa em estratégias metodológicas para que o grupo avalie diversas ações e elementos que podem ajudar a garantir um trabalho de qualidade na Educação Infantil.
A Rede Municipal está em diálogo com este documento e no ano passado [2011], a equipe pedagógica da Subsecretaria de Educação Infantil, fez algumas discussões com os Coordenadores e Diretores de instituições de Educação Infantil, a fim de repensar as ações suas instituições a partir dos elementos reflexivos apresentados pelo referido material. Neste documento, para o a discussão da linguagem oral e escrita que é a proposta nuclear deste texto nos interessa recortar as seguintes questões:
Crianças tendo experiências agradáveis, variada estimulantes com a linguagem oral e escrita
2.5.1. As professoras lêem livros diariamente, de diferentes gêneros, para crianças?
2.5.2. As professoras contam histórias, diariamente, para as crianças?
2.5.3. As professoras incentivam as crianças a manusear livros, revistas e outros textos?
2.5.4. As professoras criam oportunidades prazerosas para o contato das crianças com a palavra escrita?
2.5.5. As crianças são incentivadas a “produzir textos” mesmo sem saber ler e escrever?
Questão que se refere apenas a bebês e crianças pequenas
2.5.6. As professoras e demais profissionais adotam a prática de conversar com os bebês e crianças pequenas mantendo-se no mesmo nível do olhar da criança, em diferentes situações, inclusive nos momentos de cuidados diários?
Questão que se refere apenas a crianças de 4 até 6 anos
2.5.7. As professoras incentivam as crianças maiores, individualmente ou em grupos, a contar e recontar histórias e a narrar situações? (INDICADORES DE QUALIDADE, 2009:42)
Os indicadores já apontam algumas práticas necessárias ao trabalho pedagógico que deve ser desenvolvido com a linguagem oral e escrita na Educação Infantil. Além destas práticas podemos pensar em outras possíveis de serem incorporadas no cotidiano da sala de aula ou da rotina do CEI e das escolas de Educação Infantil, que podem colaborar para o desenvolvimento destas linguagens. Como por exemplo: a leitura dos bilhetes feitos pela instituição; a prática de leitura em voz alta; projetos múltiplos que incentivem não apenas a leituras das crianças, mas também de seus familiares, através do empréstimo de livros e varais de leituras com poesias, histórias, jornais e informações múltiplas espalhados pelos lugares de circulação destes sujeitos; etc.
 Uma idéia já difundida na Educação Infantil da Rede Municipal de Ensino é de que a inserção na cultura escrita deve permear as ações pedagógicas das instituições ainda que as crianças não tenham adquirido a competência leitora. Para tanto, é preciso pensar no papel fundamental do professor dessas instituições no sentido de que eles serão os leitores para aqueles que ainda não sabem ler convencionalmente, entendimento este reforçado pelas Diretrizes Curriculares (DCNEI).
Reforçamos a necessidade de uma prática pedagógica que vá além da contação de histórias. Porém, ressaltamos que as duas ações, contação e leitura, devem habitar o cotidiano das crianças tendo em vista as diferenças de seus propósitos. Ao considerar tais diferenças, o professor proporcionará às crianças uma ampliação de seu comportamento leitor à medida que para cada uma tenha distintos objetivos. Para tanto, a leitura de bons textos deve ser considerada como atividade permanente realizada pelo professor fomentando assim o gosto pela leitura nas crianças.
Desde a mais tenra idade as crianças estão em permanente contato com a linguagem escrita. Desta forma o papel das instituições de Educação Infantil deve ser o de promotor de ambientes propícios ao contato com textos diversos para que as crianças possam construir sua capacidade de ler possibilitando-lhes compreender o sistema escrito em sua complexidade.
De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para Educação Infantil (DCNEI) o importante é apoiar as crianças, desde cedo e ao longo de todas as suas experiências cotidianas na Educação Infantil no estabelecimento de uma familiaridade com diferentes linguagens, no interesse e curiosidade pelo conhecimento do mundo (p.14).
Fica assim evidente que, as propostas pedagógicas das instituições de Educação Infantil precisam organizar um cotidiano de situações que possibilitem às crianças se apropriarem de diferentes linguagens garantindo-lhes o acesso aos bens culturais.

1 comentários:

Mônica Achão disse...

Professores que oferecem pequenas doses diárias de leitura agradável, sem forçar, mas com naturalidade, desenvolverão na criança um hábito que poderá acompanhá-la pela vida afora. Para desenvolver um programa de leitura equilibrado, que integre os conteúdos relacionados ao currículo escolar e ofereça uma certa variedade de livros de literatura como contos, fábulas e poesias, é preciso que o professor observe a idade cronológica da criança e principalmente o estágio de desenvolvimento de leitura em que ela se encontra.
Assim, as condições necessárias ao desenvolvimento de hábitos positivos de leitura, incluem oportunidades para ler de todas as formas possíveis. Frequentar livrarias, feiras de livros e bibliotecas são excelentes sugestões para tornar permanente o hábito de leitura.
Num mundo tão cheio de tecnologias em que se vive, onde todas as informações ou notícias, músicas, jogos, filmes, podem ser trocados por e-mails, cd’s e dvd’s o lugar do livro parece ter sido esquecido. Há muitos que pensem que o livro é coisa do passado, que na era da Internet, ele não tem muito sentido. Mas, quem conhece a importância da literatura na vida de uma pessoa, quem sabe o poder que tem uma história bem contada, quem sabe os benefícios que uma simples história pode proporcionar, com certeza haverá de dizer que não há tecnologia no mundo que substitua o prazer de tocar as páginas de um livro e encontrar nelas um mundo repleto de encantamento.
Se o professor acreditar que além de informar, instruir ou ensinar, o livro pode dar prazer, encontrará meios de mostrar isso à criança. E ela vai se interessar por ele, vai querer buscar no livro esta alegria e prazer. Tudo está em ter a chance de conhecer a grande magia que o livro proporciona. Enfim, a literatura infantil é um amplo campo de estudos que exige do professor conhecimento para saber adequar os livros às crianças, gerando um momento propício de prazer e estimulação para a leitura.

Equipe do C. E. I. Jorge Rolando da Silva

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