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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

O BRINCAR: UMA EXPERIÊNCIA CONSTRUÍDA



O BRINCAR: UMA EXPERIÊNCIA CONSTRUÍDA

Cada vez mais se desenvolve, ao menos nos meios educacionais da criança pequena, um discurso relativo ao valor da brincadeira.

Brincar é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da identidade e da autonomia. A fantasia e a imaginação são elementos fundamentais pra que a criança aprenda mais sobre a relação entre as pessoas, sobre o eu e sobre o outro. Brincar funciona como um cenário no qual as crianças tornam-se capazes não só de imitar a vida como também transformá-la. Brincar constitui-se em uma atividade interna das crianças baseada no desenvolvimento da imaginação e na interpretação da realidade, sem ser ilusão ou mentira. (RCNEI, 1998)


De acordo com Gilles Brougère


a criança está inserida, desde o seu nascimento, num contexto social e seus comportamentos estão impregnados por essa imersão inevitável. Não existe na criança uma brincadeira natural. A brincadeira é um processo de relações interindividuais, portanto de cultura... A brincadeira pressupõe uma aprendizagem social. Aprende-se a brincar. A brincadeira não é inata, pelo menos nas formas que ela adquire junto ao homem. A criança pequena é iniciada na brincadeira por pessoas que cuidam dela... Foi o adulto que batizou de brincadeira todos os comportamentos de descoberta da criança (págs. 97 – 98).


Assim, o autor conclui que “a brincadeira é um espaço social, uma vez eu não é criada espontaneamente, mas em conseqüência de uma aprendizagem social”.
Considerando que brincar se aprende, é fundamentalmente importante pensar o papel do educador que tem como função favorecer a aprendizagem das crianças. É preciso a compreensão de que a educação é ato intencional, que requer orientação e que é imprescindível a ação docente também na brincadeira, portanto, deve estar presente como um eixo na proposta pedagógica da instituição.
Para tanto, deve estar presente nas discussões dos profissionais de educação infantil os aspectos relacionados à interação criança-criança e criança-adulto nas situações de brincadeira.
Se há um adulto atento e interessado nas ações das crianças, este processo de interação torna-se mais rico e dessa forma elas passam a compreender e utilizar com autonomia as regras sociais para mediar conflitos e desenvolver a capacidade de argumentação. As ações do professor junto às crianças são culturalmente e historicamente definidas e baseiam-se em especial na representação que ele faz de seu papel, da concepção de criança e de educação infantil. A forma como o professor desempenha seu papel é particularmente importante na experiência de aprendizagens das crianças.
Interação, aprendizagem e desenvolvimento são termos inseparáveis e é preciso evidenciar as possibilidades construtivas no processo de interação nas brincadeiras. É necessário perceber a riqueza das relações que emergem dessas situações para que a brincadeira não seja apenas para preencher espaço, marcar a passagem de uma atividade para outra ou preparação para o momento seguinte. O espaço da Educação infantil deve perceber a brincadeira em seu sentido pleno.
O sucesso das propostas educativas depende da forma como pensadas pelos profissionais da instituição. Para tanto, a organização de ambientes favoráveis para a aprendizagem das crianças está relacionada com o compromisso do professor de propor vivências nas diferentes linguagens e de permitir escolhas, trocas entre os pares, o exercício da autonomia, a construção de cultura e o acesso aos variados bens culturais. O lugar do adulo é fundamental. A ele cabe procurar contrapor a idéia de “uso pedagógico” da brincadeira ao direito de acesso à brincadeira como sinônimo do próprio direito à infância.
Assim, em consonância com as definições estabelecidas nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (2010) o currículo busca ser o conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental, científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de crianças de 0 a 5 anos de idade e, as práticas pedagógicas devem ter como eixos norteadores as interações e a brincadeira.





DEBORTOLI, José Alfredo. Educação Infantil e conhecimento escolar: reflexões sobre a presença do brincar na educação de crianças pequenas.
KISHIMOTO, Tizuco Morchida. Escolarização e brincadeira na educação infantil.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura.       






3 comentários:

Mônica Achão disse...

Meninas,
Adorei a proposta!!!
A Educação Infantil é 10!!!
Li um texto de Nylse Helena Silva Cunha
(Alimentar a criança com brincadeiras é tão importante como alimentar o corpo com
comida) e achei interessante. Resolvi compartilhá-lo com vocês.
Ela é autora de diversas obras sobre o assunto, destacando a importância dos espaços de brincadeira para dar oportunidade da criança "mergulhar" em seu brinquedo sem cobrança de
desempenho e sem adulto para atrapalhar. Para a especialista, alimentar a inteligência e a criatividade da criança com a brincadeira é tão importante quanto alimentar o corpo com comida.
Nylse citou algumas das funções da brinquedoteca, entre as quais:
- estimular a capacidade de concentração;
- favorecer o equilíbrio emocional;
- dar oportunidade de expressão;
- desenvolver a criatividade, a inteligência e a sociabilidade;
- enriquecer o número de experiências e de descobertas; e
- melhorar o relacionamento com a família.
A educação acadêmica parte do pressuposto de que as conquistas sociais são o objetivo da vida, o que é uma suposição correta para a maioria das pessoas mas, e a felicidade, onde ficaria? Status, patrimônio garantem felicidade a alguém? A realização exterior sem a realização interior não proporciona felicidade. A fonte da alegria está dentro de nós; se nossa criança interior estiver enfraquecida ou doente não seremos felizes, nem levaremos felicidade a ninguém.
A percepção do novo depende da capacidade de descobrir e aqui chegamos a uma
encruzilhada muito especial: o que é descobrir? É des-cobrir, é tirar os véus, isto requer coragem e uma certa dose de loucura. Esta descoberta não depende de conhecimentos científicos, mas, sim, da capacidade de encantar-se, da capacidade de soltar-se para buscar o novo.
O ato criativo é um ato de coragem. Quem pensa muito não cria porque o racionalismo, o excesso de crítica inibem o processo criativo. Mas, existe um aspecto interessante para ser considerado que é a diferença entre a busca de solução e o “deixar fluir de dentro”.
O processo criativo e o ato de criar podem ter origens diferentes. A criatividade do arquiteto, que busca uma nova solução para desenhar um espaço e a criatividade do poeta, que expressa um sentimento ou uma nova maneira de ver um fato, tem origens diferentes: na primeira, a motivação veio do problema, na segunda veio de uma necessidade interior; mas a criação é
sempre um ato de liberdade; quem cria se expõe.
O brinquedo livre da criança é um exercício de criatividade, é uma forma de expressão que é também um passo em direção ao novo.
Um abraço
Mônica - C. E. I. Jorge Rolando da Silva

Cátia disse...

Nós achamos a proposta fabulosa! Gostamos muito da forma como pode e deve ser encarada a vivenciada nesta fase de vida, portanto concluimos que muitas vezes que a criança, ao fazer tal conquista, entra para um espaço social e cultural extremamente valorizado nas culturas letradas e tal fato não passa desapercebido pelos que cuidam dela, às vezes, por ter um ritmo diferente, os adultos acabam deixando de valorizar o processo de conquista e querem logo o resultado, o produto.

Cátia e equipe - C.E.I Irmã Silvana

Mônica Achão disse...

Sandrinha,
Adoramos o texto e resolvemos fazer um comentário.

Nós, também já fomos crianças e já tivemos nossos momentos de pura alegria guiados pela singeleza de divertimentos e brincadeiras infantis que despertaram nossos sentimentos mais nobres. Jogos e brincadeiras são atividades básicas que, contribuem para o desenvolvimento motor, emocional e social de nossas crianças, mas que também podem servir como uma espécie de laboratório, onde se praticam e se aprendem as regras da sociedade com a qual vivemos e para a qual devemos apresentar nossa parcela de contribuição, aprendendo a interagir como um "ser social" que coopera e sabe competir.
As brincadeiras e os jogos infantis contém uma série de valores que, através dos tempos, foram sendo selecionados de forma natural por diversas gerações, guardando relações de ajustamento à época e ao meio. O aprendizado desses costumes pela criança propicia além da liberação de energia, à expansão da criatividade, fortalecendo a sociabilidade e estimulando a liberdade.
Equipe do C. E. I. Jorge Rolando da Silva

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